quarta-feira, 5 de novembro de 2008

FOGO PERDIDO

Onde me perdi? Quantas histórias deixei por contar?
De visita à imaginação ouvi sussurros inquietantes, pintei magia, toquei o amor...
Mas ninguém sentiu...
Esperei por sonhos...eles tardam!
Absorvi tempestades e caminhei descalça... purifiquei a vontade, envolvi-me com um desconhecido...
Sei que sinto!
Tormenta descontrolada porque me prendes à razão?!
O meu confuso ser caminha,só porque assim tem de ser...
Onde deixei o poder de me encontrar?
O outro lado bem que tenta esconder-se,mas demora...
Aqui tudo balança e guerreia...
Sou só matéria...
Os egos brincam...e alimentam a descoberta de mim...
Temo de novo a consciência...
Porque me perdi?!

MULHER

Quem és tu?
Julgas-te de qualquer um... mostras o intocável e... foges de qualquer medo!
Dói-te por qualquer sentir, mas divagas...
Entregas-te à solidão...
Choras sangue, precisas de água para te libertares...
Corrompes memórias e limitas-te ao infinito!
Quem és tu?
Dizem que te vão encontrar morta no amanhã...
Já não me fascina saber porque amas qualquer um...
Diz-me só quem és tu...
Feiticeira de qualquer outro ser!

...

Parece tudo possível...
Até mesmo os virgens a sofrer...
Algures no céu, a chave da maravilha reluz...
E nem as sonânbulas a sentem...
Suspiram os sábios!
E toda a essência dança perdidamente!
Os loucos corroem-se de dor efémera,
E a vida repete-se sem fim!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O Amor

"E alguém pediu: fala-nos do Amor.
- Quando o Amor vos fizer sinal,segui-o; ainda
que os seus caminhos sejam, duros e difíceis.
E quando as suas asas vos envolverem,
entregai-vos, mesmo que a espada escondida
na sua plumagem vos possa ferir.

E quando vos falar, acreditai nele;
apesar de a sua voz poder quebrar os vossos sonhos
como o vento norte
ao sacudir os jardins.
Porque assim como o vosso amor
vos engrandece, também deve crucificar-vos.
E assim como se eleva à vossa altura
e acaricia os ramos mais frágeis
que tremem ao sol, também penetrará
até às raízes sacudindo o seu apego à terra.
Como braçadas de trigo vos leva,
malhava-vos até ficardes nus.
Passa-vos pelo crivo para vos livrar do joio,
mói-vos até à brancura,
amassa-vos até ficardes maleáveis.
então entrega-vos ao seu fogo, para vos transformar
no pão sagrado no festim de Deus.

Tudo isto vos fará o amor, para conhecerdes
a fundo os segredos do vosso coração,
e através desse conhecimento vos tornardes
o coração da vida.

Mas se no vosso medo buscais apenas a paz do
amor, o prazer do amor,então mais vale cobrir a
nudez e sair do campo do amor
a caminho do mundo sem estações onde podereis rir,
mas nunca todos os vossos risos,
e chorar, mas nunca todas as vossas lágrimas.

O Amor só dá de si e só recebe de si.
O Amor não possui,nem quer ser possuído.
Porque o amor basta ao amor.

E não tentar guiar o curso do
amor: porque o amor, se vos escolher, marcará
ele o vosso curso. O Amor não tem outro desejo
senão o de consumar-se.

Mas se amarem e tiverem desejos,
deverão ser estes:
fundir-se e ser um ribeiro corrente a cantar
a sua melodia à noite.
Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela própria inteligencia do amor
e sangrar de bom grado e alegremente.
Acordar de manhã com o coração cheio
e agradecer outro dia de amor. Descansar
ao meio dia e meditar no extase do amor.
Voltar a casa ao crepúsculo e adormecer tendo no
coração uma prece pelo bem amado, e na boca
um canto de louvor."

Khalil Gibran